Meditação Quaresmal 40

Domingo de Ramos: Utilidade da Paixão de Cristo como exemplo.

Domingo de Ramos
   
Como disse S. Agostinho: "A Paixão de Cristo é suficiente para ser modelo de toda a nossa vida". Quem quer que queira ser perfeito na vida, nada mais é necessário fazer senão desprezar o que Cristo desprezou na cruz, e desejar o que nela Ele desejou. Nenhum exemplo de virtude deixa de estar presente na cruz.
Se nelas buscas um exemplo de caridade, "ninguém tem maior caridade do que aquele que dá sua vida pelos amigos" (Jo 15, 13). Ora, foi o que Cristo fez na cruz. Por isso, já que Cristo entregou a sua vida por nós, não nos deve ser pesado suportar toda espécie de males por amor a Ele. "O que retribuirei ao Senhor, por todas as coisas que Ele me deu?" (Ps. 115, 12).
 
Se procuras na cruz um exemplo de paciência, nela encontrarás uma imensa paciência. A paciência manifesta-se extraordinária de dois modos: ou quando alguém suporta grandes males pacientemente, ou quando suporta aquilo que poderia ser evitado e não quis evitar. Cristo na cruz suportou grandes sofrimentos: "Ó vós todos que passais pelo caminho parai e vede se há dor igual à minha!" (Lm 1, 17), e os suportou pacientemente, "como a ovelha levada para o matadouro e como o cordeiro silencioso na tosquia" (1 Pd 2, 23). Cristo na cruz suportou também os males que poderia ter evitado, mas não os evitou: "Julgais que não posso rogar a meu Pai e que Ele logo não me envie mais que doze legiões de Anjos?" (Mt 26, 53). Realmente, a paciência de Cristo na cruz foi imensa! "Corramos com paciência para o combate que nos espera, com os olhos fitos em Jesus, o autor da nossa fé, que a levará ao termo: Ele que, lhe tendo sido oferecida a alegria, suportou a cruz sem levar em consideração a sua humilhação" (Heb 36, 17).
 
Se desejares ver na cruz um exemplo de humildade, basta-te olhar para o crucifixo. Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer: "A vossa causa, Senhor, foi julgada como a de um ímpio" (Jo 36, 17). Sim, de um ímpio, porque disseram: "Condenemo-lo a uma morte muito vergonhosa" (Sb 2, 20). O Senhor quis morrer pelo seu servo, e Aquele que dá a vida aos Anjos, pelo homem: "Fez-se obediente até à morte" (Fl 2, 8)
 
Se queres na cruz um exemplo de obediência, segue Àquele que se fez obediente ao pai, até à morte: "Assim como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores; também pela obediência de um só homem, muitos se tornaram justos" (Rm 5, 19).
 
Se na cruz estás procurando um exemplo de desprezo das coisas terrenas, segue Àquele que é o Rei e o Senhor dos Senhores no qual estão os tesouros da sabedoria, mas que na cruz aparece nu, ridicularizado, escarrado, flagelado, coroado de espinhos, na sede saciado com fel e vinagre e morto. Não deves te apegar às vestes e às riquezas, "porque dividiram entre si as minhas vestes" (Sl 29, 19); nem às honras, porque "Eu suportei as zombarias e os açoites"; nem às dignidades, porque "puseram em minha cabeça uma coroa de espinhos que trançaram"; nem às delícias, porque "na minha sede deram-me vinagre para beber" (Sl 68, 22)
        
In Symb.
 
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte: https://permanencia.org.br/drupal/node/2102

Meditação Quaresmal 39


Sábado depois do I domingo da Paixão: De que modo devemos lavar os pés uns dos outros?

sábado da I semana da Paixão
 
"Se eu, pois, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13, 14)
 
Nosso Senhor quer que seu exemplo seja imitado pelos discípulos. Ele diz: "Se eu", que sou maior que vós, pois sou Senhor e Mestre, "vos lavei os pés, também vós", por muito maior razão, pois sois discípulos e servos, "deveis lavar os pés uns aos outros". Noutra parte, lemos (Mt 20, 26): "todo o que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo... assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir".
Segundo Agostinho, todo homem deve lavar os pés aos outros já corporalmente, já espiritualmente. É muito melhor e sem dúvida mais verdadeiro lavar os pés realmente; que os cristãos não desdenhem fazer o que o próprio Cristo fez: quando o corpo se inclina para os pés de um irmão, o sentimento de benevolência se ascende em seu coração. E se já se possuía este sentimento, ele é confirmado. Porém, se não lavamos realmente os pés uns aos outros, façamo-lo ao menos no coração. Ora, pelo lava-pés devemos entender a limpeza das faltas. Assim, portanto, lavemos espiritualmente os pés de nossos irmãos e, de todo coração, lavemos suas manchas.
 
Ora, isto se faz de três modos:
 
1. Perdoando suas ofensas, segundo aquilo do Apóstolo (Cl 3, 13): "se algum tem razão de queixa contra o outros: assim como o Senhor vos perdoou a vós, assim também vós deveis perdoar aos outros."
 
2. Rezando pelos seus pecados: "orai uns pelos outros, para serdes salvos" (Tg 5, 16).
 
3. O terceiro modo diz respeito aos prelados, que devem lavar os pés perdoando os pecados com a autoridade das chaves, conforme o Evangelho (Jo 20, 22): "Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados."
 
Podemos ainda dizer que, pelo lava-pés, o Senhor nos mostra todas as obras de misericórdia. Pois, quem dá o pão a quem tem fome, lava-lhe os pés; do mesmo modo, quem acolhe os viajantes, veste os nus e assim por diante,"tomando parte nas necessidades dos santos" (Rm 12, 13).
          
In Joan., XIII..
 
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte:https://permanencia.org.br/drupal/node/2101

Meditação Quaresmal 38

Sexta-feira depois do I domingo da Paixão: A compaixão de Nossa Senhora.

sexta-feira da I semana da Paixão
"E uma espada trespassará a tua alma" (Lc 2, 35)
Estas palavras assinalam a grande compaixão de Nossa Senhora pelo Cristo.
Quatro coisas tornaram a Paixão de Cristo sobretudo amargas à mãe de Cristo:
1. A bondade de seu Filho"ele não cometeu pecado, nem se encontrou engano na sua boca" (1 Pd 2, 22);
2. A crueldade dos verdugos, que se evidencia ao terem se recusado a dar-lhe água na sua agonia e impedido que lho desse sua mãe, que diligentemente daria.
3. A ignomínia do suplício"Condenemo-lo a uma morte infame", diz o livro da Sabedoria (2, 20).
4. A atrocidade dos tormentos"Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à dor que me atormenta" (Lm 1, 12).
        
Serm.
Quanto às palavras do velho Simeão: "uma espada trespassará a tua alma", Orígines e outros doutores as aplicam à dor sofrida por Cristo na Paixão.
Quanto a Ambrósio, pela espada entende significar a prudência de Maria, não ignorante do mistério celeste. Pois, vivo é o verbo de Deus, válido e mais agudo que toda espada de dois gumes.
Outros, porém, entendem por isso a espada da dúvida, não devendo, porém, entender-se por esta uma dúvida culpável contra a fé, mas a da admiração e da discussão. Assim diz Basílio: a Santa Virgem, aos pés da cruz e presenciando tudo o que se passou, depois mesmo do testemunho de Gabriel, depois do inefável conhecimento da divina concepção, depois da ingente realização dos milagres, flutuava na sua alma, vendo, de um lado, as humilhações que sofria seu Filho e, de outro, as maravilhas que realizava.
IIIa q. XXVII, a. IV, 2um
Mesmo sabendo pela fé que Deus queria que Cristo sofresse, e ainda que conformasse sua vontade à vontade divina quanto à coisa desejada, como fazem os perfeitos, a Virgem Maria se entristecia pela morte de Cristo, enquanto sua vontade inferior repugnava esta coisa particularmente desejada; e isto não é contrário à perfeição.
1 Dist. 48, q. única, a. III
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte: https://permanencia.org.br/drupal/node/2100

Meditação Quaresmal 37

Quinta-feira depois do I domingo da Paixão: O Sinal maior do amor de Cristo

quinta-feira da I semana da Paixão
 
Aparentemente, a maior prova do amor de Cristo por nós foi o ter dado seu corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós, pois a caridade da Pátria é mais perfeita que a caridade da Via. Ora, este benefício com que Deus nos agraciou, ao nos dar seu corpo como alimento, é mais similar à caridade da Pátria, onde gozaremos plenamente de Deus, enquanto a Paixão a que Cristo se submeteu mais se assemelha à caridade da Via, onde nos expomos a morrer por Cristo. Assim, pois, a maior prova de amor de Cristo seria o ter nos dado seu corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós.
Contudo, lemos no Evangelho (Jo 15, 13): "Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos".
 
Solução: No que diz respeito ao amor humano, nada ultrapassa o amor com que nos amamos a nós mesmos, por isso este amor é a medida de todo amor que sentimos pelos demais. Ora, o característico do amor com que nos amamos a nós mesmos, é o querer o bem a nós mesmos. Portanto, o amor ao próximo será tanto mais evidente quanto mais preterirmos em seu proveito o bem que desejamos para nós, como aquilo das Escrituras (Pr 12, 26): "Aquele que por amor do seu amigo não repara em sofrer alguma perda, é justo".
 
Ora, o homem quer para si mesmo um triplo bem particular: sua alma, seu corpo, os bens exteriores.
 
Suportar algum prejuízo nos bens exteriores por causa de outrem é sinal de amor.
 
Sofrer corporalmente por outrem, em trabalhos ou agressões, é sinal ainda maior de amor.
 
Contudo, abandonar sua alma e morrer pelo amigo, eis o sinal máximo de amor.
 
Assim, ao sofrer e morrer por nós, Cristo nos deu a maior prova de seu amor. Ao nos dar seu próprio corpo como alimento, o fez sem nenhum detrimento próprio.
A Paixão é a maior prova do amor de Deus. Por isso a Eucaristia é memorial e figura da Paixão de Cristo. Ora, a verdade se superpõe à figura e a realidade, ao memorial.
 
A produção do corpo de Cristo no Santo Sacramento é figura do amor com que Deus nos ama na Pátria; mas a Paixão de Cristo pertence ao amor mesmo de Deus, que nos tirou da perdição para nos levar a si. O amor de Deus não é maior no céu que no presente.
 
Quodl. V, q. III, a. II
Fonte:https://permanencia.org.br/drupal/node/2099

Meditação Quaresmal 36

Quarta-feira depois do I domingo da Paixão: *O Sepulcro Espiritual

quarta-feira da I semana da Paixão
 
A contemplação das coisas celestes é representada pelo sepulcro. Por isso, sobre a passagem das Escrituras (Jó 3, 22): "e ficam transportados de alegria, quando encontram o sepulcro?", comenta são Gregório: na contemplação das coisas divinas, a alma, morta para o mundo, esconde-se como um corpo na sepultura e, longe de toda inquietação do século, repousa por três dias como que por uma tripla imersão. Os atribulados e vexados pelos insultos dos homens, ao entrar em espírito na presença de Deus, não mais se sentem atribulados, conforme aquilo do salmista (Sl 30, 21): "Sob a proteção do teu rosto os defendes das conjuras dos homens".
Três coisas são necessárias para este sepulcro espiritual em Deus: que a alma pratique as virtudes, torne-se toda pura e branca e morra radicalmente para o mundo. Todas estas condições se encontram misticamente presentes na sepultura de Cristo.
 
1. A primeira encontramos em são Marcos (14, 8), no lugar em que se diz que Maria Madalena embalsamou com antecipação a sepultura de Jesus: o balsamo precioso de nardo significa as virtudes que possuem grande preço. Nada nesta vida é mais precioso que as virtudes. Por isso, a alma santa que quer ser embalsamada na divina contemplação, deve antes de mais nada receber o balsamo pelo exercício das virtudes. Assim dizia Jó (5, 26): "Entrarás, na maturidade, no sepulcro..." a que acrescenta a Glosa: da divina contemplação  "...como um feixe de trigo colhido a seu tempo."  novamente a Glosa: porque o tempo da ação tem por recompensa a eterna contemplação; e é preciso que o perfeito exercite antes sua alma nas virtudes para guardá-la em seguida no celeiro do repouso.
 
2. A segunda encontramos também em são Marcos (15, 40), no lugar em que se diz que José comprou um sudário, pois o sudário é uma peça de linho, e o linho só se embranquece com muito trabalho. Daí vêm o simbolizar a candura da alma, à qual só conquistamos com muito trabalho. Lê-se no Apocalipse (22, 11), "aquele que é justo justifique-se mais; aquele que é santo, santifique-se mais". São Paulo dizia aos romanos (6, 4): "Nós fomos, pois, sepultados com ele, a fim de morrer pelo batismo, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos uma vida nova", progredindo do bem ao melhor, pela justiça da fé, na esperança da glória. Assim, devem os homens guardarem-se no sepulcro da divina contemplação pelo candor da pureza interior. Por isso, sobre aquilo da Escritura (Mt 5, 8): "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus", disse são Jerônimo: o Senhor, que é puro, é visto pelo coração puro.
 
3. A terceira encontramos em são João (19, 39), quando diz"Nicodemos, o que tinha ido primeiramente de noite ter com Jesus, foi também, levando uma composição de quase cem libras de mirra e de aloés". As cem libras de mirra e de aloés, pelas quais o corpo morto conserva-se sem se corromper, significam a mortificação perfeita dos sentidos exteriores, pela qual a alma, morta para o mundo, conserva-se sem se corromper pelos vícios; segundo esta palavra de são Paulo (2 Cor 4, 16): "embora se destrua em nós o homem exterior, todavia o homem interior vai-se renovando de dia para dia", ou seja, torna-se cada vez mais puro de vícios pelo fogo da tribulação.
 
Por isso, a alma do homem deve, antes de mais nada, morrer para este mundo com Cristo e, sem seguido, ser sepultada com ele, no segredo da contemplação. São Paulo o dizia aos Colossenses (3, 3): "estais mortos para as coisas terrenas e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus".       
 
De Humanitate Christi, cap. XLII
 
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte:https://permanencia.org.br/drupal/node/2098

Meditação Quaresmal 35

Terça-feira depois do I domingo da Paixão: O Sepulcro de Cristo

terça-feira da I semana da Paixão
 
«Porque molestais esta mulher?  Ela fez-me verdadeiramente uma boa obra... derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo como para me sepultar» (Mt 26, 10-12)
 
Era conveniente que Cristo fosse sepultado.
1. Primeiro, para comprovar a verdade da sua morte; pois, ninguém é posto num sepulcro senão quando consta que está verdadeiramente morto. Por isso no Evangelho (Mc 15, 44-45), se lê que Pilatos, antes de permitir que Cristo fosse sepultado, procurou saber por uma inquisição diligente, se estava morto.
 
2. Segundo, porque tendo ressurgido do sepulcro, deu a esperança de ressurgir, por meio dele, aos que estão sepultos, segundo aquilo do Evangelho (Jo 5, 28): "Todos os que se acham nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus".
 
3. Terceiro, para exemplo dos que, pela morte de Cristo, morreram espiritualmente aos pecados, conforme aquilo da Escritura (Sl 30, 21): "Estão escondidos contra a turbação dos homens". Por isso diz o Apóstolo (Cl 3, 3): "Já estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". E assim também os batizados, que pela morte de Cristo morreram aos pecados, são como consepultos com Cristo, pela imersão, segundo o Apóstolo (Rm 6, 4): "Nós fomos sepultados com Cristo para morrer pelo batismo".
 
*
 
Assim como a morte de Cristo obrou eficientemente a nossa salvação, também a sua sepultura. Por isso diz Jerônimo:Ressurgimos pela sepultura de Cristo. E aquilo da Escritura (Is 53, 9): "E dará os ímpios pela sepultura", diz a Glosa: i. é, as gentes, que não tinham a piedade, da-los-á a Deus Padre, porque os ganhou pela sua morte.
 
*
 
De Cristo diz a Escritura (Sl 87, 6): "Chegou a ser homem como sem socorro, livre entre os mortos". Ora, Nosso Senhor mostrou que mesmo sepulto entre os mortos era livre, pelo fato da inclusão do sepulcro não ter podido impedi-lo de sair dele pela ressurreição.
        
IIIa q. LI a. 1
 
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte:https//permanencia.org.br/drupal/node/2097

Meditação Quaresmal 34

Segunda-feira depois do I domingo da Paixão: A Paixão de Cristo é remédio contra todos os pecados.

segunda-feira da I semana da Paixão
 
A todos os males que contraímos pelo pecado, encontramos remédio na Paixão de Cristo. Contraímos pelo pecado cinco males:
O primeiro, é a própria mancha do pecado. Quando um homem peca, conspurca a sua alma, porque, como a virtude embeleza, o pecado a enfeia. Lê-se em Barruch: "Por que estás, ó Israel, na terra dos inimigos, e te contaminaste com os mortos?" (Br 3, 10).
 
Mas a Paixão de Cristo lavou esta mancha. Cristo, na sua Paixão, fez do seu sangue um banho para nele lavar os pecadores: "Lava-os do pecado no sangue" (Ap 1, 5). No Batismo a alma é lavada no Sangue de Cristo, por que este recebe do Sangue de Cristo a força regeneradora. Por isso, quando alguém batizado se macula pelo pecado, faz uma injúria a Cristo e o seu pecado é maior que o cometido antes do batismo. Lê-se na Carta aos Hebreus: "O que desprezou a lei de Moisés, após ouvido o testemunho de dois ou três, deve morrer" (Heb 10, 28-29). Como não deve merecer maiores suplícios, aquele que pisou no Sangue do Filho de Deus e considerou impuro o Sangue da Aliança?
 
O segundo mal que contraímos pelo pecado é nos tornarmos objeto da aversão de Deus. Assim como quem é carnal ama a beleza da carne, do mesmo modo Deus ama a beleza espiritual, que é a beleza da alma. Quando, por conseguinte, a alma se deixa contaminar pelo mal do pecado, Deus fica ofendido e odeia o pecador. Lê-se no Livro da Sabedoria: "Deus odeia o ímpio e a sua impiedade" (Sb 14, 9). Mas a Paixão de Cristo remove essas coisas, por que ela satisfez ao Pai ofendido pelo pecado, cuja satisfação não poderia vir do homem. A caridade e a obediência de Cristo foram maiores que o pecado e a desobediência do primeiro homem.
 
O terceiro mal é a fraquezaO homem, pecando pela primeira vez, pensa que depois pode abster-se do pecado. Acontece, porém, o contrário: debilita-se pelo primeiro pecado e fica inclinado a pecar mais. O pecado vai dominando cada vez mais o homem, e este, por si mesmo, coloca-se em tal estado que não pode mais se levantar. É como alguém que se lançou num poço. Só pode sair dele pela força divina. Depois que o homem pecou, a nossa natureza ficou debilitada, corrompida, e, por isso mesmo, ficou ele mais inclinado para o pecado.
 
Mas Cristo diminuiu essa fraqueza e debilidade, bem que não as tenha totalmente apagado.
 
O homem foi fortalecido pela Paixão de Cristo e o pecado, enfraquecido, de sorte que este não mais o dominará. Pode, por esse motivo, auxiliado pela graça divina, que é conferida pelos sacramentos cuja eficácia recebem da Paixão de Cristo, esforçar-se para sair do pecado. Lê-se em S. Paulo: "O nosso velho homem foi crucificado juntamente com Ele, para que fosse destruído o corpo do pecado" (Rm 6, 6). Antes da Paixão de Cristo, poucos havia sem pecado mortal. Mas, depois dela, muitos viveram e vivem sem pecado mortal.
 
O quarto mal é a obrigação que temos de cumprir a pena do pecadoA justiça de Deus exige que o pecado seja punido, e a pena é medida pela culpa. Como a culpa do pecado é infinita, porque ela vai contra o bem infinito, Deus, cujo mandamento o pecador desprezou, também a pena devida ao pecado mortal é infinita.
 
Mas Cristo pela sua Paixão livrou-nos dessa pena, assumindo-a Ele próprio. Confirma-o S. Pedro: "Os nossos pecados (i. é., a pena do pecado) Ele carregou no seu corpo" (1 Pd 2, 24).
 
Foi de tal modo exuberante a virtude da Paixão de Cristo, que ela só foi suficiente para expirar todos os pecados de todos os homens, mesmo que fossem em número de milhões. Eis o motivo pelo qual aquele que foi batizado, foi também purificado de todos os pecados. É também por este motivo que os sacerdotes perdoam os pecados. Do mesmo modo, aquele cujo sofrimento mais se assemelha ao da Paixão de Cristo, consegue um maior perdão e merece maiores graças.
 
O quinto mal contraído pelo pecado foi nos termos tornados exilados do reino do céu. É natural que aqueles que ofendem o rei sejam obrigados a sair da pátria. O homem foi afastado do paraíso por causa do pecado: Adão imediatamente após o pecado foi expulso do paraíso, e sua porta lhe foi trancada. Mas Cristo, pela sua Paixão, abriu aquela porta e novamente chamou os exilados para o reino.Quando foi aberto o lado de Cristo, foi também a porta do paraíso aberta; quando o seu Sangue foi derramado, a mancha foi apagada, Deus foi aplacado, a fraqueza foi afastada, a pena foi expiada, e os exilados foram convocados para o reino. Por isso é que foi logo dito ao ladrão: "Estarás hoje comigo no Paraíso" (Lc. 23, 43). Observe-se que nesse momento não foi dito — outrora; que também não foi dito a outrem — nem a Adão, nem a Abraão, nem a David; foi dito, hoje, isto é, logo que a porta foi aberta, e o ladrão pediu e recebeu perdão. Lê-se na carta aos Hebreus: "Confiantes na entrada no santuário pelo Sangue de Cristo" (Heb. 10, 19). Fica assim esclarecido como a Paixão de Cristo foi útil, enquanto remédio contra o pecado.
        
In Symb.
 
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte:https://permanencia.org.br/drupal/node/2096

Meditação Quaresmal 33

Primeiro domingo da Paixão: A Paixão de Cristo

Primeiro domingo da Paixão
   
«E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o Filho do homem, a fim de que todo o que crê nele tenha a vida eterna.» (Jo 3, 14-15)
  
Aqui há três coisas que devemos considerar:
1. A figura da Paixão: "E como Moisés levantou no deserto a serpente". Ao povo judeu, que dizia: "a nossa alma está enfastiada deste alimento levíssimo" (Nm 21, 5), Deus, para lhes castigar, enviou serpentes. Em seguida, ordenou que fizessem uma serpente de bronze como remédio contra as serpentes e em figura da Paixão. É próprio da serpente possuir veneno, mas a serpente de bronze não era venenosa. Do mesmo modo, Cristo não tinha pecado, que é um veneno, mas assemelhou-se ao pecador, conforme esta palavra de são Paulo: "enviou Deus seu Filho em carne semelhante à do pecado" (Rm 8, 3). Por isso, Cristo produziu o efeito da serpente de bronze contra o ímpeto das concupiscências abrasadas. 
 
2. O modo da Paixão: "importa que seja levantado o Filho do homem", o que se compreende do levantamento da cruz. Cristo quis morrer levantado:
 
a) Para purificar o céu. Pela santidade da sua vida, purificara já a terra, restava purificar o ar.
 
b) Para triunfar sobre o demônio, que prepara a guerra nos ares.
 
c) Para atrair nossos corações a si: "Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim" (Jo 12, 32).
 
Ao morrer na Cruz, foi exaltado, pois triunfou de seus inimigos, a ponto de sua morte ser chamada exaltação. Diz o Salmo: "Beberá da torrente no caminho, por isso levantará a sua cabeça" (Sl 109).
 
E foi a cruz a causa de sua exaltação, como diz são Paulo:"Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou" (Fl 2, 8)
 
3. O fruto da Paixão. O fruto é a vida eterna. Por isso diz: a fim de que todo o que crê nele, e faça boas boas, não pereça, mas tenha a vida eterna". Este fruto corresponde ao fruto figurado da serpente de bronze. Com efeito, quem se voltasse para ela, curava-se do veneno e salvava sua vida.Volta-se para o Filho do Homem exaltado na cruz quem crê em Cristo crucificado e, assim, curando-se do veneno e do pecado, conserva-se para a vida eterna.
        
In Joan, III
 
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte: https//permanencia.org.br/drupal/node/2095

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